A Alegoria social em “Animals” do PINK FLOYD
Parte 3
Enquanto isso, as “Ovelhas” passam seu tempo esperando. Calmas
ou resignadas, revoltadas ou dominadas, as ovelhas esperam no campo,
no cotidiano, e esperam o quê? a prosperidade, a felicidade, dias e
salários melhores. Gritam ‘bons dias’ e ‘boas tardes’ umas às outras,
repetem hinos e slogans, e se confraternizam na miséria e na mesqui-
nharia comum.
Cheias de medo, as pobres ovelhas. "Melhor vocês ficarem atentas,
Deve haver cães por perto". Assim, as Ovelhas procuram se proteger em
fantasias de crenças e dias melhores. Esperam cair dos céus o maná
da justiça e da igualdade. Confiam nos governos, que julgam eleger,
ou apóiam ditadores que surgem como iluminados (ou sombrios)
salvadores-da-Pátria.
What do you get for pretending the danger’s not real
Meek and obedient you follow the leader
Down well trodden corridors into the valley of steel.
What a surprise!
A look of terminal shock in your eyes
Now things are really what they seem.
No, this is no bad dreams.
(O que vocês ganham ao fingir que o perigo não é real?
Mansas e obedientes vocês seguem o líder
Aos percorridos corredores no vale de aço.
E que surpresa!
Uma visão de choque final em seus olhos.
Agora as coisas são realmente o que parecem.
Não, isto não é nenhum pesadelo.)
As Ovelhas se julgam protegidas pelo Líder, contudo não
percebem que são levadas ao matadouro. Tanto as tropas
quanto os prisioneiros. Assim se revelou aos italianos, aos
alemães, aos japoneses, ao fim da Segunda Guerra, quando
perceberam os morticínios dos campos de batalha, as cidades
em ruínas, os extermínios sistemáticos do Holocausto, os bom-
bardeios concentrados e a inclemência da bomba atômica.
O que sobrou para as ovelhas? A confiança cega, a resignação, o
seguir-os-maiorais, o garantir-minha-parte, a ambigüidade de
pensamento e ação, a duplicidade dos propósitos, o driblar-a-lei
pra garantir o bem-estar, o suborno pago aos Porcos e a submis-
são contínua aos Cães, o viver sempre por um fio.
As Ovelhas são as massas populares a procura de um líder, seja
político, seja religioso, seja teocrata, não importa, apenas alguém
que diga o que devem fazer – e elas obedecerão. Sempre
obedeceram. Por amor ao líder? Não, por apego à vida, por amor
à própria pele. Querem viver e querem que seus filhos vivam.
Então se acomodam.
Na letra de “Sheep” há toda uma paródia com o estilo dos Salmos,
aquele do Bom Pastor, “O Senhor é o bom pastor”, etc. onde
Waters espera mostrar sua desilusão com os líderes religiosos, que
prometem paraísos e promovem “guerras santas”. Não apenas os
religiosos, uma vez que os líderes totalitários promovem um “culto
à personalidade” que prece mais um louvor religioso. Se o líder é o
meu Senhor, então eu devo me entregar de corpo e alma.
Devem seguir as regras e nada de idéias próprias. “Melhor vocês
ficarem em casa / E fazer o que foi dito. / Fiquem longe da estrada
Parte 3
Enquanto isso, as “Ovelhas” passam seu tempo esperando. Calmas
ou resignadas, revoltadas ou dominadas, as ovelhas esperam no campo,
no cotidiano, e esperam o quê? a prosperidade, a felicidade, dias e
salários melhores. Gritam ‘bons dias’ e ‘boas tardes’ umas às outras,
repetem hinos e slogans, e se confraternizam na miséria e na mesqui-
nharia comum.
Cheias de medo, as pobres ovelhas. "Melhor vocês ficarem atentas,
Deve haver cães por perto". Assim, as Ovelhas procuram se proteger em
fantasias de crenças e dias melhores. Esperam cair dos céus o maná
da justiça e da igualdade. Confiam nos governos, que julgam eleger,
ou apóiam ditadores que surgem como iluminados (ou sombrios)
salvadores-da-Pátria.
What do you get for pretending the danger’s not real
Meek and obedient you follow the leader
Down well trodden corridors into the valley of steel.
What a surprise!
A look of terminal shock in your eyes
Now things are really what they seem.
No, this is no bad dreams.
(O que vocês ganham ao fingir que o perigo não é real?
Mansas e obedientes vocês seguem o líder
Aos percorridos corredores no vale de aço.
E que surpresa!
Uma visão de choque final em seus olhos.
Agora as coisas são realmente o que parecem.
Não, isto não é nenhum pesadelo.)
As Ovelhas se julgam protegidas pelo Líder, contudo não
percebem que são levadas ao matadouro. Tanto as tropas
quanto os prisioneiros. Assim se revelou aos italianos, aos
alemães, aos japoneses, ao fim da Segunda Guerra, quando
perceberam os morticínios dos campos de batalha, as cidades
em ruínas, os extermínios sistemáticos do Holocausto, os bom-
bardeios concentrados e a inclemência da bomba atômica.
O que sobrou para as ovelhas? A confiança cega, a resignação, o
seguir-os-maiorais, o garantir-minha-parte, a ambigüidade de
pensamento e ação, a duplicidade dos propósitos, o driblar-a-lei
pra garantir o bem-estar, o suborno pago aos Porcos e a submis-
são contínua aos Cães, o viver sempre por um fio.
As Ovelhas são as massas populares a procura de um líder, seja
político, seja religioso, seja teocrata, não importa, apenas alguém
que diga o que devem fazer – e elas obedecerão. Sempre
obedeceram. Por amor ao líder? Não, por apego à vida, por amor
à própria pele. Querem viver e querem que seus filhos vivam.
Então se acomodam.
Na letra de “Sheep” há toda uma paródia com o estilo dos Salmos,
aquele do Bom Pastor, “O Senhor é o bom pastor”, etc. onde
Waters espera mostrar sua desilusão com os líderes religiosos, que
prometem paraísos e promovem “guerras santas”. Não apenas os
religiosos, uma vez que os líderes totalitários promovem um “culto
à personalidade” que prece mais um louvor religioso. Se o líder é o
meu Senhor, então eu devo me entregar de corpo e alma.
Devem seguir as regras e nada de idéias próprias. “Melhor vocês
ficarem em casa / E fazer o que foi dito. / Fiquem longe da estrada
se vocês querem viver mais.”
Tal um contraponto aos textos amargos de “Pigs”, “Dogs” e
“Sheeps”, temos a canção “Pigs on the wing”, com a figura do
porco ao vento, quando Waters busca um contato com o Outro,
um convívio, um apoio e base de confiança, que ele não pode
encontrar junto aos Porcos, aos Cães e às Ovelhas. Escritas para
a sua mulher e num tom mais ameno, de diálogo mesmo, ressaltam
a importância do confiar-se na cumplicidade nascida da intimidade,
do tipo “se não posso confiar em você, em quem vou confiar?”.
É a possibilidade do amor.
Afinal, Waters não é um niilista, nem qualquer outro rótulo. É um
ser humano e busca apenas o seu lugar no mundo, a felicidade
ainda que tardia.
You know that I care what happens to you,
And I know that you care for me, too,
So I don’t feel alone,
(Você sabe que eu me preocupo com você,
E eu sei que você se preocupa comigo,
Então não me sinto tão sozinho )
Contudo, ele ainda vai ocupar-se do exorcismo de seus espectros
políticos em “The Wall” e “The Final Cut” que encerraram a fase
Roger Waters no PINK FLOYD.
Por Leonardo de Magalhaens
Nov/07
Tal um contraponto aos textos amargos de “Pigs”, “Dogs” e
“Sheeps”, temos a canção “Pigs on the wing”, com a figura do
porco ao vento, quando Waters busca um contato com o Outro,
um convívio, um apoio e base de confiança, que ele não pode
encontrar junto aos Porcos, aos Cães e às Ovelhas. Escritas para
a sua mulher e num tom mais ameno, de diálogo mesmo, ressaltam
a importância do confiar-se na cumplicidade nascida da intimidade,
do tipo “se não posso confiar em você, em quem vou confiar?”.
É a possibilidade do amor.
Afinal, Waters não é um niilista, nem qualquer outro rótulo. É um
ser humano e busca apenas o seu lugar no mundo, a felicidade
ainda que tardia.
You know that I care what happens to you,
And I know that you care for me, too,
So I don’t feel alone,
(Você sabe que eu me preocupo com você,
E eu sei que você se preocupa comigo,
Então não me sinto tão sozinho )
Contudo, ele ainda vai ocupar-se do exorcismo de seus espectros
políticos em “The Wall” e “The Final Cut” que encerraram a fase
Roger Waters no PINK FLOYD.
Por Leonardo de Magalhaens
Nov/07